Saturday, September 25, 2004
McQuail
McQuail, 1975
Prefácio
De facto, esta forma de comunicação personalizada ocupa um espaço relevante na sociedade. Toda a dinâmica de publicação e leitura de blogues assim como a possibilidade que qualquer pessoa tem de comentar o que é escrito nestas páginas faz com que a blogosfera se exprima também de forma real, através de encontros de utilizadores em vários pontos do país. Por outro lado, também a atenção dada pelos meios de Comunicação Social a este fenómeno realça a sua importância.
Com esta investigação aprofundamos os nossos conhecimentos sobre o tema e esperamos ter contribuído para alargar os horizontes dos utilizadores e dos potenciais futuros adeptos dos blogues. Aproveitamos ainda para agradecer a orientação da Professora Carla Cruz, docente do ISCSP, que foi essencial para cumprirmos os nossos objectivos.
Constituição da Amostra
Taxa de Retorno = Número de questionários devolvidos x 100
Número de questionários enviados
Assim, aplicada a este estudo,
Taxa de Retorno = 50 x 100 = 0.38 = 38%
130
Deste modo, obtivemos uma taxa de retorno de 38%. Apesar deste valor ser inferior a 50%, mantivemos o interesse no estudo, pois como investigação pioneira, consideramos que poderá ter sempre validade enquanto estudo de caso.
[1] Carlos Diogo Moreira, Planeamento e estratégias da investigação social, Lisboa, ISCSP, 1994
Problema de Investigação e Hipóteses
Assim, iniciamos este trabalho com os seguintes objectivos:
· Esclarecer quais as razões que fomentam a criação e a dinâmica dos blogues.
· Saber se os autores se dedicam à leitura de outros blogues, quais e porquê.
· Verificar se os blogues funcionam como alternativa aos órgãos de comunicação social convencionais.
· Abordar a questão da durabilidade dos blogues no tempo.
· Verificar a pertinência da possibilidade de anonimato nos blogues para os seus utilizadores.
Desta forma, esclarecemos neste ponto do estudo as questões a partir das quais será feita esta investigação.
Assim, elaboramos o seguinte problema de pesquisa:
· Será que o aparecimento dos blogues pode ser comparável aos órgãos de comunicação social convencionais ou, pelo contrário, é caracterizado por uma especificidade própria baseada no anonimato dos autores e na importância dos factos que ocorrem na sociedade?
De facto, a pergunta de partida “consiste em procurar enunciar o projecto de investigação (…) através da qual o investigador tenta exprimir o mais exactamente possível o que procura saber, elucidar, compreender melhor”[1]. Com o mesmo objectivo formulamos algumas hipóteses explicativas da problemática em causa:
A dinâmica dos blogues é uma das consequências mais recentes da revolução tecnológica característica desta Era da Informação e da Comunicação, onde a “comunicação personalizada” se opõe à “comunicação de massa”.
A dinâmica dos blogues acentua-se em períodos marcados pela emergência de acontecimentos importantes, mas acompanhados por uma grande ambiguidade informativa.
A dinâmica dos blogues deve-se à facilidade de manutenção do anonimato dos bloguistas conotados com opiniões alternativas e minoritárias face à designada Opinião Pública.
Optamos assim por contextualizar estas hipóteses na óptica das teorias da comunicação, uma vez que os weblogs se inserem precisamente nesta área. De facto, apesar da rapidez na evolução tecnológica, a base da dinâmica comunicacional assenta em teorias criadas há muito tempo atrás.
Relativamente à primeira hipótese exposta, é de realçar a sua ligação à Teoria Funcionalista das comunicações de massa. Esta teoria preocupa-se fundamentalmente com “a explicitação (…) das funções exercidas pela comunicação de massa na sociedade”[2] e surge da evolução das teorias anteriores que se focam, por esta ordem, em questões relacionadas com a manipulação, a persuasão e a influência dos mass media no meio social. De acordo com Mauro Wolf, “a mudança conceptual coincide com o abandono da ideia de um efeito intencional, (…) para fazer convergir a atenção nas consequências objectivamente averiguáveis da acção dos mass media sobre a sociedade no seu conjunto (…)”[3]. Nesta fase das teorias da comunicação é já um facto consumado a presença dos media e estes fazem parte do dia-a-dia das pessoas. Deste modo, visto que o que impera é a comunicação de massa, qual será a reacção dos indivíduos ao aparecimento de meios alternativos que assentem numa base comunicacional personalizada? Este é o caso, por exemplo, dos blogues. Será que as pessoas substituíram de alguma forma os meios de comunicação convencionais (como a televisão, a rádio, a imprensa escrita ou o cinema) com o aparecimento dos blogues? Ou será que se mantêm consumidores assíduos dos produtos culturais considerados de massa? Desta forma pretendemos verificar se o desenvolvimento da comunicação personalizada vem ou não diminuir a audiência dos meios de comunicação de massa e a consistência das funções destes últimos na sociedade. Esta é uma das questões à qual pretendemos dar resposta com este estudo.
Uma outra questão que pretendemos esclarecer está relacionada com a informação que circula nos blogues. Nesta hipótese, partimos do pressuposto que a dinâmica é maior quando surgem acontecimentos relevantes na sociedade, quer ao nível económico, político, cultural ou social. Isto porque estes acontecimentos funcionam como argumento para comentar nos blogues. No entanto, a informação que circula é filtrada pelos autores e pode ser proveniente das mais diversas fontes, muitas vezes não identificadas nem seguras. Assim, esta informação pode surgir a partir de rumores, uma situação estudada por Allport e Postman na década de 40. Segundo estes autores, o rumor consiste numa informação que apesar de aparentar ser verdadeira, não contém dados que auxiliem a verificação dessa verdade[4]. Ainda assim, o rumor vai circulando de pessoa para pessoa (através do mecanismo de passagem de boca a orelha). Allport define então uma lei relativa a esta difusão e diz que quanto mais ambíguo e relevante for o assunto, maior vai ser a propagação do rumor no seio de um determinado grupo[5]. Postman completa depois a lei de Allport com uma fórmula matemática: R = I x A, ou seja, o rumor é igual à importância do rumor a multiplicar pela sua ambiguidade. Logo, quanto maior a ambiguidade e a importância do assunto, maior será a dimensão do rumor. Dimensão esta que é ainda maior se a informação for difundida por um órgão de comunicação de massa[6]. Para aprofundarem o estudo, os autores conceberam um processo experimental e concluíram que os rumores têm uma função na sociedade a nível das emoções dos indivíduos. Perante determinados acontecimentos relevantes, os indivíduos têm tendência a deturpar a informação[7]. Esta teoria pode ser transportada para a realidade actual. Com esta hipótese partimos do pressuposto que a escrita dos blogues é impulsionada por acontecimentos importantes.
Apesar da liberdade de expressão característica da sociedade actual, ainda hoje determinados indivíduos têm tendência a omitir as suas verdadeiras opiniões quando integrados em grupos em que a medida de pensamento maioritária não é concordante com a sua. Isto acontece pelo receio que têm de serem marginalizadas. Ora, foi a partir deste pressuposto que surgiu, em 1974, pela mão de Elisabeth Noelle-Neumann, a Teoria da Espiral do Silêncio. Este modelo foi proposto pela socióloga alemã, que defendeu que “a formação das opiniões maioritárias é resultado das relações entre os meios de comunicação de massas, a comunicação interpessoal e percepção que cada indivíduo tem da sua própria opinião quando confrontada com a dos outros”[8]. Sendo assim, quando esta entra em discordância com a maioria, os indivíduos tendem a controlar a expressão do seu pensamento com o objectivo de não serem colocados à margem do grupo. Cria-se assim, segundo Noelle-Neumann, a espiral do silêncio. Esta consiste num “círculo vicioso que distorce a imagem da realidade e desacredita qualquer definição de opinião pública”[9], uma vez que existem opiniões que não corroboram com a opinião massiva.
Neste contexto, surgem os blogues que permitem que qualquer indivíduo possa expressar a sua opinião sem se identificar. Desta forma, já não necessita de recear qualquer marginalização por pensar de maneira diferente. Mas será que para os utilizadores de blogues é pertinente o facto de poderem manter o anonimato? Ou será que optam por se identificarem e assinarem os textos que escrevem e publicam no blogue? Esta é a terceira hipótese que pretendemos confirmar ou refutar no final deste estudo.
Isto porque “uma hipótese é uma proposição provisória, uma pressuposição que deve ser verificada”[10].
[1] Raymond Quivy, Manual de Investigação em Ciências Sociais, Gradiva Publicações Lda, Lisboa, 1998, p.32
[2] Mauro Wolf, Teorias da Comunicação, Editorial Presença, 8ªedição, Lisboa, Outubro 2003, pág. 62
[3] Idem
[4] Cf. Gordon William Allport and Leo Postman, The Psychology of Rumor, New York: Russel&Russel, 1947
[5] Idem
[6] Idem
[7] Idem
[8] José Rodrigues dos Santos, Comunicação, Prefácio, Lisboa, 2001, pág.123
[9] Idem
[10] Raymond Quivy, Manual de Investigação em Ciências Sociais, Gradiva Publicações Lda, Lisboa, 1998, pág.136
Conclusões do Inquérito
Deste modo, apresentamos aqui as conclusões essenciais relativas a cada pergunta do questionário, assim como a confirmação ou refutação das hipóteses apresentadas na metodologia.
1. Em primeiro lugar, realçamos que a maioria dos utilizadores criou o seu blogue pela necessidade de expressar opiniões. Já 32% acrescentam ainda que o fizeram com vista a partilhar informação que se encontra na Internet ou fora dela.
2. Relativamente à segunda questão, mais de 90% dos inquiridos assumem que lêem outros blogues. A escrita apelativa presente nessas páginas e o gosto pela dinâmica da blogosfera são as duas principais razões que os levam a consultar outros blogues. Para além das razões, tentamos perceber quais são os endereços eleitos. Desta forma, a preferência dos inquiridos recai, por esta ordem, sobre o Barnabé, o Abrupto, o Aviz, o Blasfémias e o Janela Indiscreta. É ainda de referir que os dois primeiros são dinamizados por pessoas conhecidas no meio político. As publicações do Barnabé são assinadas por Daniel Oliveira, dirigente e assessor de imprensa do Bloco de Esquerda no Parlamento. O Abrupto, como já foi referido, pertence a José Pacheco Pereira, o ex-eurodeputado social-democrata. Este facto indica de alguma forma que os leitores procuram informação credível sobre factos da actualidade, nomeadamente questões relacionadas com o meio político, funcionando os seus autores, de certa forma, como Opinion Makers[1]. Esta questão deve ser confrontada com o conteúdo de um artigo, disponível em anexo, publicado pela revista Visão com o título “Políticos na Blogolândia”.
3. Uma outra questão fundamental está relacionada com o facto de os blogues funcionarem ou não como uma alternativa aos meios de comunicação social. De facto, aqui a esmagadora maioria (68%) nega que isso tenha acontecido. Este dado leva-nos a refutar a primeira hipótese referente ao nosso problema de pesquisa. Isto porque a comunicação personalizada não se veio opor à comunicação de massa e a grande parte dos utilizadores não substitui os produtos culturais considerados de massa pelos blogues. Ainda assim, 32% dos inquiridos respondem afirmativamente a esta pergunta. Destes, 63% acrescentam que diminuíram o tempo que dedicavam ao consumo de televisão, rádio, imprensa escrita e cinema.
4. Quanto à durabilidade dos blogues no tempo, 56% consideram que estes não são apenas uma moda. Isto porque se trata de um meio de fácil acesso para divulgar informação e expressar ideias e opiniões. Já cerca de 40% consideram que o fenómeno se vai desvanecer com o tempo, pois os blogues vão desaparecer e ser substituídos por outros meios.
5. Uma das hipóteses que colocamos no início do estudo defendia que a dinâmica dos blogues se acentuava em períodos marcados por acontecimentos importantes no seio da sociedade. De facto, cerca de 18% por cento dos inquiridos considera que isto é verdade, mas 34% defende que esta dinâmica se acentua pela necessidade de partilhar, ou seja, não necessariamente porque os utilizadores de blogues estão perante um assunto de relevância social. Isto leva-nos a refutar a nossa segunda hipótese inicial. No entanto, por uma questão de controlo, e uma vez que esta investigação se trata de um estudo de caso (pois a taxa de retorno calculada é inferior a 50%), consideramos que estes resultados possam não corresponder totalmente à realidade. Isto porque, de acordo com os dados do ponto dois deste capítulo, os blogues mais lidos detêm no seu conteúdo acontecimentos actuais relevantes, sobretudo do meio político. Outros inquiridos apontam ainda outras razões que levam à prática da publicação de posts e leitura de blogues, como a existência de interesses em comum por parte dos utilizadores e a necessidade que alguns têm de ganhar visibilidade e protagonismo no meio da blogosfera. É ainda de referir que 12% dos indivíduos não sabe ou não responde a esta questão.
6. Uma outra conclusão relevante recai sobre a questão do anonimato. De facto, 50% dos inquiridos afirmam que não é o facto de terem a possibilidade de omitir a sua identidade que os encoraja a publicar opiniões sobre qualquer assunto sem qualquer receio. Por outro lado, 34% referem mesmo que a questão não se aplica ao seu caso, uma vez que estão, de alguma maneira, identificados no blogue. Assim, apenas 16% admite que o anonimato é uma vantagem deste fenómeno. Estes resultados levam-nos a refutar a terceira hipótese que era justificada pela Teoria da Espiral do Silêncio e afirmava que a adesão aos blogues era uma forma facilitada de expressar opiniões alternativas e minoritárias face à chamada Opinião Pública, sem receio de marginalização.
7. A última conclusão a salientar recai sobre o perfil dos utilizadores, suportado neste estudo por três indicadores: a profissão, a idade e o género. Deste modo, podemos afirmar que os professores (de diversos níveis de escolaridade), os jornalistas e os estudantes são os maiores adeptos dos blogues. Depois, é ainda de referir a forte presença de gestores, advogados e arquitectos no seio da blogosfera, pelo que concluímos que os adeptos dos blogues se dedicam a profissões liberais ou são estudantes. No que concerne à idade, a faixa etária predominante situa-se entre os 25 e os 39 anos, o que à partida revela uma tendência para indivíduos com uma certa consciência pública. Relativamente ao género, são os homens que mais se dedicam aos blogues, o que pode ser justificado pelo que provavelmente também acontece nos meios de comunicação social – a audiência parece ser suportada essencialmente por indivíduos do sexo masculino. De facto, os homens têm aparentemente mais tempo disponível para dedicarem a estas questões, uma vez que a estrutura social indica a uma maior sobrecarga para os elementos do sexo feminino, no que concerne a tarefas domésticas e educativas a somar à sua vida profissional.
[1] Líderes de Opinião
Perfil da Amostra
Deste modo, é de salientar que as profissões de carácter liberal, a par dos estudantes, são as que detêm maior frequência absoluta na tabela. De facto, são os professores que lideram o ranking de profissões, sendo que a dinâmica de blogues integra tanto professores universitários como de outros níveis de ensino escolar. Em cinquenta indivíduos, oito são professores, o que perfaz 16%. Também os jornalistas e os estudantes são adeptos dos blogues e apresentam-se na tabela com 8% das frequências relativas para cada uma destas profissões. Por outro lado, com uma percentagem de seis, no seio da blogosfera encontram-se ainda gestores, advogados e arquitectos. Com um significado de 4% existem ainda profissões como investigador, consultor, administrativo, director comercial, economista e escritor. É ainda de salientar que também os reformados se dedicam à blogosfera.
Quanto à idade, 26% dos inquiridos têm entre 30 e 34 anos e desta classe poderá eventualmente fazer parte um número significativo de divorciados, no que se refere ao Estado Civil. Esta é apenas uma hipótese que poderia suscitar um novo estudo. As faixas etárias imediatamente antes e depois da que tem maior frequência, ou seja, dos 25 aos 29 e dos 35 aos 39, representam 20% dos casos cada uma. É ainda de salientar que 8% dos utilizadores de blogues têm mais de 55 anos e que 12% têm entre 15 e 24 anos, pelo que se conclui que este é um fenómeno que abrange todas as idades com destaque para a faixa etária entre os 25 e os 39 anos.
O terceiro elemento de classificação prende-se com o género dos indivíduos. Neste campo, podemos salientar a presença masculina no seio da blogosfera, que representa cerca de 80% dos casos, em detrimento da dinâmica feminina. Ainda a referir que não nos foi possível apurar o género de 12% da amostra.
Com estes três indicadores, profissão, idade e género, completamos assim o perfil da amostra, que de certo nos será útil para enriquecermos as nossas conclusões.
Análise de Dados
Gráfico 1 - Razões para a criação de um blogue
A primeira questão colocada pretendia apurar as razões que levaram os inquiridos a criar um blogue. Uma vez que esta era uma questão passível de resposta múltipla, o somatório dos valores é superior a 100%. Assim, é a primeira hipótese que reúne maior consenso, com 56% dos bloguistas a admitir que criaram o blogue por necessidade de expressar opiniões.
Existem utilizadores que enquanto navegam pela Internet encontram informação diversificada que depois colocam no blogue. Esta tem subjacente diversos tipos de conteúdo, quer seja informação cultural, noticiosa ou apenas questões meramente curiosas. Uma das alíneas de opção para esta questão residia precisamente neste aspecto e foi a segunda mais seleccionada pelos inquiridos. Desta forma, 32% dos indivíduos admite que criou o blog para partilhar informação que encontra na internet ou fora dela. Já 30% das respostas recaem sobre a segunda hipótese, que fomenta que o inquirido inaugurou o seu blog para divulgar algo do seu interesse.
Alguns blogues que foram surgindo, tanto em Portugal como noutros países, tinham como objectivo funcionar como os diários tradicionais, com a diferença de que estes textos estavam acessíveis aos cibernautas. Nestes casos, os “donos” destes blogues escreviam e publicavam posts sobre a sua vida pessoal. Mas este tipo de blogue não é o mais frequente, como confirmam as respostas dos inquiridos. Segundo o gráfico 4, apenas 18% dos cinquenta bloguistas que fazem parte da amostra assumem que iniciaram o blogue para escrever sobre a sua vida pessoal. É ainda de salientar que este tipo de diários virtuais parecem ser mais comuns entre os bloguistas adolescentes e que, no que concerne às idades, a maioria dos inquiridos pertence à faixa etária que se situa entre os 30 e os 34 anos.
Outra hipótese proposta para a criação de um blogue residia no facto de o utilizador ter sido influenciado, por alguém conhecido, a iniciar a página. De facto, os resultados demonstram que a maioria dos inquiridos (cerca de 88%) entrou no mundo dos blogues por outros meios. Deste modo, apenas 12% assumem ter sido influenciados por alguém conhecido a “abrir” um blogue.
Gráfico 1.1 - Outras razões que fomentam a criação de um blogue.
Cerca de 28% dos inquiridos apontaram ainda outras razões pelas quais criaram um blogue. A resposta era aberta e optamos depois por codificar as diversas opções, aqui apresentadas em três categorias. Assim, cerca de 70% dos inquiridos afirma que criou o blogue pelo prazer de escrever, ler e comunicar. Depois, 14% assumem que escrevem nos blogues para contrariar os poderes existentes, ou seja, escrevem de forma crítica e muitas vezes satírica sobre os poderes da sociedade, tanto o poder governamental como, por outro lado, a própria Comunicação Social. Outros 14% que optaram por somar uma razão às opções propostas no questionário, afirmam que começaram a expressar-se através deste meio pelo gosto que têm pelo tema do blogue e porque os meios de comunicação social não exploram determinados temas de forma e frequência suficientes.
2. Leitura regular de blogues
Gráfico 2 - Leitura de blogues por parte dos indivíduos
Para além da escrita, a dinâmica dos blogues é composta também pela leitura dos mesmos. De facto, os dados demonstram que 94% dos inquiridos, para além de manterem os seus blogues, se dedicam à leitura de outros que fazem parte da blogosfera.
A partir das respostas dos inquiridos, elaboramos também uma lista dos vinte blogues mais lidos em Portugal. Desta forma, o blogue Barnabé lidera o ranking, seguido do Abrupto. Em terceiro lugar, aparecem depois o Aviz, o Blasfémias e o Janela Indiscreta. São ainda de referir os blogues Contra a Corrente e Dicionário do Diabo.
Tabela 1- Os blogues mais lidos em Portugal
Gráfico 2.1 - O que fomenta a leitura de blogues
O reduzido número de inquiridos que não se dedica à leitura de blogues também justificou a sua posição. De facto, apenas 6% do total de inquiridos diz não ter este hábito. Uns lamentam a “falta de tempo” para navegar pela blogosfera, outros afirmam que esta “entrou numa nova fase”, ou seja, os blogues são cada vez mais individualistas, o que leva que tenham uma “comunidade de leitores cada vez mais pequena”. Finalmente, uma terceira justificação para esta atitude assenta no facto dos blogues serem “meramente exibicionistas”, ou seja, “só pretendem dar nas vistas” e não cumprem uma lógica na publicação de posts.
3. Blogues como alternativa aos meios de comunicação social
Gráfico 3 - Blogues como substitutos dos Meios de Comunicação Social
Outra questão relevante para este estudo residia em saber até que ponto os blogues vieram ocupar o lugar de outros meios, nomeadamente os meios de comunicação social (como a televisão, a rádio ou a imprensa), os livros e o cinema. Neste caso é o “Não” que se destaca com 68% dos inquiridos a afirmarem que os blogues não vieram substituir os meios convencionais. Ainda assim, alguns assumem que este meio recente veio retirar algum tempo de consumo que poderia eventualmente ser dedicado a esses meios convencionais. Deste modo, 32% considera que sim, que os blogues vieram revolucionar o espaço comunicacional e ocupar de forma significativa a atenção do antigo espectador, ouvinte e leitor.
Mais de 30% dos inquiridos consideram que os blogues vieram substituir de alguma forma o consumo de outros meios. Ao tentarmos perceber como é que isso aconteceu, as opiniões divergem novamente, culminando depois em três pontos principais.
Gráfico 3.1 - Como os blogues ocupam o lugar dos Meios de Comunicação Social
Deste modo, cerca de 60% dizem que com o aparecimento dos blogues passaram a dedicar menos tempo de consumo a outros meios de comunicação. Já 25% assumem ter preferência pelos comentários e opiniões que se expressam nos blogues, em detrimento dos espaços opinativos que podem ser encontrados nos meios de comunicação social convencionais. Finalmente, 13% defendem que os blogues estão mais próximos dos interesses dos leitores que os próprios media.
4. Percepção dos blogues enquanto fenómeno de moda
Gráfico 4 - Percepção dos blogues enquanto fenómeno de moda
É ainda relevante observarmos a posição dos utilizadores de blogues quanto à durabilidade dos mesmos, em termos de futuro. De facto, apesar deste ser um fenómeno recente, 56% dos inquiridos defendem que os blogues não são uma moda. Já 40% mostram-se mais cépticos e consideram que toda esta dinâmica é passageira. É ainda de referir que 4% não sabe ou não respondeu a esta questão.
Procuramos também saber as razões subjacentes à questão da moda. Assim, os inquiridos que responderam afirmativamente a esta pergunta justificaram a sua opinião em quatro pontos fundamentais. Em primeiro lugar, cerca de 50% consideram que os blogues são uma moda porque com o tempo vão desaparecendo e vão sendo substituídos por outros meios. Já 20% justificam a curta “vida” do blogues porque acham que estes são criados apenas para alcançar visibilidade ou popularidade. Por outro lado, 15% defendem que se irá perder o interesse por estas páginas e, finalmente, 10% admitem que os blogues têm uma adesão restrita, que se baseia essencialmente em pessoas provenientes do meio intelectual.
Mas, para 56% dos inquiridos este é um fenómeno que se vai manter activo. Isto porque os blogues são um meio de fácil acesso para divulgação ou expressão de opiniões e outra informação, de acordo com metade das respostas. Como se pode observar no gráfico 14, as colunas centrais convergem para o mesmo número de respostas. Assim, 14% dos inquiridos que responderam que os blogues não são de facto uma moda, justificam esta opinião com o facto de estarem sempre a surgir novos blogues. Outros 14% consideram que estas páginas são mesmo necessárias como alternativa aos meios convencionais, e o mesmo número de respostas assenta no facto da blogosfera ser uma comunidade forte, no seio da qual os bloguers interagem e comunicam entre si. Finalmente, 7% defende que comunicar não é uma moda, logo esta dinâmica bloguista deverá manter-se a longo prazo.
Gráfico 4.1 - Razões que atribuem aos blogues fenómeno de moda
Gráfico 4.2 - Razões que não atribuem aos blogues fenómeno de moda
5. A dinâmica dos blogues
De facto, existe uma grande dinâmica na publicação de posts e de leitura de blogues. Por isso, procuramos saber que motivos levam ao desenrolar deste processo. Segundo 34% dos inquiridos, é a necessidade de partilhar e expressar opiniões, informação e ideias que leva a que exista uma grande publicação e consequente leitura de entradas nos blogues. Já 18% considera que são os acontecimentos que marcam a actualidade que lideram a vontade de escrever e ler os posts. Também o facto de existirem interesses em comum de quem escreve e quem lê no seio da blogosfera contribui para esta dinâmica, de acordo com 14% das respostas. Outra justificação, dada por 10% dos inquiridos, refere-se à necessidade que os autores têm de ganhar visibilidade e protagonismo no meio da blogosfera. Por outro lado, 6% justifica esta dinâmica pela facilidade que existe na manutenção dos blogues e, o mesmo número, defende que todo este processo se deve ao prazer e à diversão que está inerente à publicação e leitura de blogues. Finalmente, é de referir que 12% dos indivíduos não sabem ou não responderam a esta questão.
Gráfico 5 - Motivos que levam à existência de uma maior dinâmica de blogues
6. A importância do anonimato na dinâmica dos blogues
Gráfico 6 - A relevância do Anonimato
Outra questão que consideramos pertinente investigar prende-se com o anonimato. Ao criar o blogue, um indivíduo pode decidir a forma como se vai identificar e assinar os posts. Desta forma, procuramos saber se o facto de o autor poder manter o anonimato o encoraja a publicar opiniões sobre qualquer assunto sem qualquer receio. Metade dos inquiridos respondeu que não, ou seja, que esse não é um factor decisivo quando escrevem no blogue. Apenas 16% admitem que é uma vantagem omitir a sua identidade. No entanto, em 34% dos casos esta questão não se aplica, visto que os inquiridos detêm alguns dos seus dados pessoais disponíveis no blogue que dinamizam.