Saturday, September 25, 2004

 

Conclusões do Inquérito

Após a análise dos dados obtidos a partir do inquérito administrado aos utilizadores de blogues, consideramos pertinente retirar algumas conclusões gerais.

Deste modo, apresentamos aqui as conclusões essenciais relativas a cada pergunta do questionário, assim como a confirmação ou refutação das hipóteses apresentadas na metodologia.

1. Em primeiro lugar, realçamos que a maioria dos utilizadores criou o seu blogue pela necessidade de expressar opiniões. Já 32% acrescentam ainda que o fizeram com vista a partilhar informação que se encontra na Internet ou fora dela.

2. Relativamente à segunda questão, mais de 90% dos inquiridos assumem que lêem outros blogues. A escrita apelativa presente nessas páginas e o gosto pela dinâmica da blogosfera são as duas principais razões que os levam a consultar outros blogues. Para além das razões, tentamos perceber quais são os endereços eleitos. Desta forma, a preferência dos inquiridos recai, por esta ordem, sobre o Barnabé, o Abrupto, o Aviz, o Blasfémias e o Janela Indiscreta. É ainda de referir que os dois primeiros são dinamizados por pessoas conhecidas no meio político. As publicações do Barnabé são assinadas por Daniel Oliveira, dirigente e assessor de imprensa do Bloco de Esquerda no Parlamento. O Abrupto, como já foi referido, pertence a José Pacheco Pereira, o ex-eurodeputado social-democrata. Este facto indica de alguma forma que os leitores procuram informação credível sobre factos da actualidade, nomeadamente questões relacionadas com o meio político, funcionando os seus autores, de certa forma, como Opinion Makers[1]. Esta questão deve ser confrontada com o conteúdo de um artigo, disponível em anexo, publicado pela revista Visão com o título “Políticos na Blogolândia”.

3. Uma outra questão fundamental está relacionada com o facto de os blogues funcionarem ou não como uma alternativa aos meios de comunicação social. De facto, aqui a esmagadora maioria (68%) nega que isso tenha acontecido. Este dado leva-nos a refutar a primeira hipótese referente ao nosso problema de pesquisa. Isto porque a comunicação personalizada não se veio opor à comunicação de massa e a grande parte dos utilizadores não substitui os produtos culturais considerados de massa pelos blogues. Ainda assim, 32% dos inquiridos respondem afirmativamente a esta pergunta. Destes, 63% acrescentam que diminuíram o tempo que dedicavam ao consumo de televisão, rádio, imprensa escrita e cinema.

4. Quanto à durabilidade dos blogues no tempo, 56% consideram que estes não são apenas uma moda. Isto porque se trata de um meio de fácil acesso para divulgar informação e expressar ideias e opiniões. Já cerca de 40% consideram que o fenómeno se vai desvanecer com o tempo, pois os blogues vão desaparecer e ser substituídos por outros meios.

5. Uma das hipóteses que colocamos no início do estudo defendia que a dinâmica dos blogues se acentuava em períodos marcados por acontecimentos importantes no seio da sociedade. De facto, cerca de 18% por cento dos inquiridos considera que isto é verdade, mas 34% defende que esta dinâmica se acentua pela necessidade de partilhar, ou seja, não necessariamente porque os utilizadores de blogues estão perante um assunto de relevância social. Isto leva-nos a refutar a nossa segunda hipótese inicial. No entanto, por uma questão de controlo, e uma vez que esta investigação se trata de um estudo de caso (pois a taxa de retorno calculada é inferior a 50%), consideramos que estes resultados possam não corresponder totalmente à realidade. Isto porque, de acordo com os dados do ponto dois deste capítulo, os blogues mais lidos detêm no seu conteúdo acontecimentos actuais relevantes, sobretudo do meio político. Outros inquiridos apontam ainda outras razões que levam à prática da publicação de posts e leitura de blogues, como a existência de interesses em comum por parte dos utilizadores e a necessidade que alguns têm de ganhar visibilidade e protagonismo no meio da blogosfera. É ainda de referir que 12% dos indivíduos não sabe ou não responde a esta questão.

6. Uma outra conclusão relevante recai sobre a questão do anonimato. De facto, 50% dos inquiridos afirmam que não é o facto de terem a possibilidade de omitir a sua identidade que os encoraja a publicar opiniões sobre qualquer assunto sem qualquer receio. Por outro lado, 34% referem mesmo que a questão não se aplica ao seu caso, uma vez que estão, de alguma maneira, identificados no blogue. Assim, apenas 16% admite que o anonimato é uma vantagem deste fenómeno. Estes resultados levam-nos a refutar a terceira hipótese que era justificada pela Teoria da Espiral do Silêncio e afirmava que a adesão aos blogues era uma forma facilitada de expressar opiniões alternativas e minoritárias face à chamada Opinião Pública, sem receio de marginalização.

7. A última conclusão a salientar recai sobre o perfil dos utilizadores, suportado neste estudo por três indicadores: a profissão, a idade e o género. Deste modo, podemos afirmar que os professores (de diversos níveis de escolaridade), os jornalistas e os estudantes são os maiores adeptos dos blogues. Depois, é ainda de referir a forte presença de gestores, advogados e arquitectos no seio da blogosfera, pelo que concluímos que os adeptos dos blogues se dedicam a profissões liberais ou são estudantes. No que concerne à idade, a faixa etária predominante situa-se entre os 25 e os 39 anos, o que à partida revela uma tendência para indivíduos com uma certa consciência pública. Relativamente ao género, são os homens que mais se dedicam aos blogues, o que pode ser justificado pelo que provavelmente também acontece nos meios de comunicação social – a audiência parece ser suportada essencialmente por indivíduos do sexo masculino. De facto, os homens têm aparentemente mais tempo disponível para dedicarem a estas questões, uma vez que a estrutura social indica a uma maior sobrecarga para os elementos do sexo feminino, no que concerne a tarefas domésticas e educativas a somar à sua vida profissional.

[1] Líderes de Opinião

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