Saturday, September 25, 2004

 

Problema de Investigação e Hipóteses

Com este estudo pretendemos aprofundar o fenómeno dos weblogs, visando o objectivo de perceber quais as razões que fomentam a criação e a procura destas páginas virtuais em Portugal, assim como estabelecer um breve perfil dos utilizadores. De facto, o número de blogues portugueses tem vindo a aumentar e é cada vez maior a dinâmica em torno dos autores e leitores, que, na maior parte das vezes, exercem mesmo estas duas funções em simultâneo.

Assim, iniciamos este trabalho com os seguintes objectivos:

· Esclarecer quais as razões que fomentam a criação e a dinâmica dos blogues.

· Saber se os autores se dedicam à leitura de outros blogues, quais e porquê.

· Verificar se os blogues funcionam como alternativa aos órgãos de comunicação social convencionais.

· Abordar a questão da durabilidade dos blogues no tempo.

· Verificar a pertinência da possibilidade de anonimato nos blogues para os seus utilizadores.


Desta forma, esclarecemos neste ponto do estudo as questões a partir das quais será feita esta investigação.
Assim, elaboramos o seguinte problema de pesquisa:

· Será que o aparecimento dos blogues pode ser comparável aos órgãos de comunicação social convencionais ou, pelo contrário, é caracterizado por uma especificidade própria baseada no anonimato dos autores e na importância dos factos que ocorrem na sociedade?

De facto, a pergunta de partida “consiste em procurar enunciar o projecto de investigação (…) através da qual o investigador tenta exprimir o mais exactamente possível o que procura saber, elucidar, compreender melhor”[1]. Com o mesmo objectivo formulamos algumas hipóteses explicativas da problemática em causa:

A dinâmica dos blogues é uma das consequências mais recentes da revolução tecnológica característica desta Era da Informação e da Comunicação, onde a “comunicação personalizada” se opõe à “comunicação de massa”.

A dinâmica dos blogues acentua-se em períodos marcados pela emergência de acontecimentos importantes, mas acompanhados por uma grande ambiguidade informativa.

A dinâmica dos blogues deve-se à facilidade de manutenção do anonimato dos bloguistas conotados com opiniões alternativas e minoritárias face à designada Opinião Pública.


Optamos assim por contextualizar estas hipóteses na óptica das teorias da comunicação, uma vez que os weblogs se inserem precisamente nesta área. De facto, apesar da rapidez na evolução tecnológica, a base da dinâmica comunicacional assenta em teorias criadas há muito tempo atrás.

Relativamente à primeira hipótese exposta, é de realçar a sua ligação à Teoria Funcionalista das comunicações de massa. Esta teoria preocupa-se fundamentalmente com “a explicitação (…) das funções exercidas pela comunicação de massa na sociedade”[2] e surge da evolução das teorias anteriores que se focam, por esta ordem, em questões relacionadas com a manipulação, a persuasão e a influência dos mass media no meio social. De acordo com Mauro Wolf, “a mudança conceptual coincide com o abandono da ideia de um efeito intencional, (…) para fazer convergir a atenção nas consequências objectivamente averiguáveis da acção dos mass media sobre a sociedade no seu conjunto (…)”[3]. Nesta fase das teorias da comunicação é já um facto consumado a presença dos media e estes fazem parte do dia-a-dia das pessoas. Deste modo, visto que o que impera é a comunicação de massa, qual será a reacção dos indivíduos ao aparecimento de meios alternativos que assentem numa base comunicacional personalizada? Este é o caso, por exemplo, dos blogues. Será que as pessoas substituíram de alguma forma os meios de comunicação convencionais (como a televisão, a rádio, a imprensa escrita ou o cinema) com o aparecimento dos blogues? Ou será que se mantêm consumidores assíduos dos produtos culturais considerados de massa? Desta forma pretendemos verificar se o desenvolvimento da comunicação personalizada vem ou não diminuir a audiência dos meios de comunicação de massa e a consistência das funções destes últimos na sociedade. Esta é uma das questões à qual pretendemos dar resposta com este estudo.

Uma outra questão que pretendemos esclarecer está relacionada com a informação que circula nos blogues. Nesta hipótese, partimos do pressuposto que a dinâmica é maior quando surgem acontecimentos relevantes na sociedade, quer ao nível económico, político, cultural ou social. Isto porque estes acontecimentos funcionam como argumento para comentar nos blogues. No entanto, a informação que circula é filtrada pelos autores e pode ser proveniente das mais diversas fontes, muitas vezes não identificadas nem seguras. Assim, esta informação pode surgir a partir de rumores, uma situação estudada por Allport e Postman na década de 40. Segundo estes autores, o rumor consiste numa informação que apesar de aparentar ser verdadeira, não contém dados que auxiliem a verificação dessa verdade[4]. Ainda assim, o rumor vai circulando de pessoa para pessoa (através do mecanismo de passagem de boca a orelha). Allport define então uma lei relativa a esta difusão e diz que quanto mais ambíguo e relevante for o assunto, maior vai ser a propagação do rumor no seio de um determinado grupo[5]. Postman completa depois a lei de Allport com uma fórmula matemática: R = I x A, ou seja, o rumor é igual à importância do rumor a multiplicar pela sua ambiguidade. Logo, quanto maior a ambiguidade e a importância do assunto, maior será a dimensão do rumor. Dimensão esta que é ainda maior se a informação for difundida por um órgão de comunicação de massa[6]. Para aprofundarem o estudo, os autores conceberam um processo experimental e concluíram que os rumores têm uma função na sociedade a nível das emoções dos indivíduos. Perante determinados acontecimentos relevantes, os indivíduos têm tendência a deturpar a informação[7]. Esta teoria pode ser transportada para a realidade actual. Com esta hipótese partimos do pressuposto que a escrita dos blogues é impulsionada por acontecimentos importantes.

Apesar da liberdade de expressão característica da sociedade actual, ainda hoje determinados indivíduos têm tendência a omitir as suas verdadeiras opiniões quando integrados em grupos em que a medida de pensamento maioritária não é concordante com a sua. Isto acontece pelo receio que têm de serem marginalizadas. Ora, foi a partir deste pressuposto que surgiu, em 1974, pela mão de Elisabeth Noelle-Neumann, a Teoria da Espiral do Silêncio. Este modelo foi proposto pela socióloga alemã, que defendeu que “a formação das opiniões maioritárias é resultado das relações entre os meios de comunicação de massas, a comunicação interpessoal e percepção que cada indivíduo tem da sua própria opinião quando confrontada com a dos outros”[8]. Sendo assim, quando esta entra em discordância com a maioria, os indivíduos tendem a controlar a expressão do seu pensamento com o objectivo de não serem colocados à margem do grupo. Cria-se assim, segundo Noelle-Neumann, a espiral do silêncio. Esta consiste num “círculo vicioso que distorce a imagem da realidade e desacredita qualquer definição de opinião pública”[9], uma vez que existem opiniões que não corroboram com a opinião massiva.
Neste contexto, surgem os blogues que permitem que qualquer indivíduo possa expressar a sua opinião sem se identificar. Desta forma, já não necessita de recear qualquer marginalização por pensar de maneira diferente. Mas será que para os utilizadores de blogues é pertinente o facto de poderem manter o anonimato? Ou será que optam por se identificarem e assinarem os textos que escrevem e publicam no blogue? Esta é a terceira hipótese que pretendemos confirmar ou refutar no final deste estudo.
Isto porque “uma hipótese é uma proposição provisória, uma pressuposição que deve ser verificada”[10].


[1] Raymond Quivy, Manual de Investigação em Ciências Sociais, Gradiva Publicações Lda, Lisboa, 1998, p.32
[2] Mauro Wolf, Teorias da Comunicação, Editorial Presença, 8ªedição, Lisboa, Outubro 2003, pág. 62
[3] Idem
[4] Cf. Gordon William Allport and Leo Postman, The Psychology of Rumor, New York: Russel&Russel, 1947
[5] Idem
[6] Idem
[7] Idem
[8] José Rodrigues dos Santos, Comunicação, Prefácio, Lisboa, 2001, pág.123
[9] Idem
[10] Raymond Quivy, Manual de Investigação em Ciências Sociais, Gradiva Publicações Lda, Lisboa, 1998, pág.136


Comments:
Joana, por favor reative o blogue aqui, para ao menos dizer algo mais sobre sua licenciatura e/ou pós doutoramentos e etc. Felicidades!
 
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