Saturday, September 25, 2004

 

Análise de Dados

1. Razões que fomentam a criação de um blogue


Gráfico 1 - Razões para a criação de um blogue

A primeira questão colocada pretendia apurar as razões que levaram os inquiridos a criar um blogue. Uma vez que esta era uma questão passível de resposta múltipla, o somatório dos valores é superior a 100%. Assim, é a primeira hipótese que reúne maior consenso, com 56% dos bloguistas a admitir que criaram o blogue por necessidade de expressar opiniões.
Existem utilizadores que enquanto navegam pela Internet encontram informação diversificada que depois colocam no blogue. Esta tem subjacente diversos tipos de conteúdo, quer seja informação cultural, noticiosa ou apenas questões meramente curiosas. Uma das alíneas de opção para esta questão residia precisamente neste aspecto e foi a segunda mais seleccionada pelos inquiridos. Desta forma, 32% dos indivíduos admite que criou o blog para partilhar informação que encontra na internet ou fora dela. Já 30% das respostas recaem sobre a segunda hipótese, que fomenta que o inquirido inaugurou o seu blog para divulgar algo do seu interesse.
Alguns blogues que foram surgindo, tanto em Portugal como noutros países, tinham como objectivo funcionar como os diários tradicionais, com a diferença de que estes textos estavam acessíveis aos cibernautas. Nestes casos, os “donos” destes blogues escreviam e publicavam posts sobre a sua vida pessoal. Mas este tipo de blogue não é o mais frequente, como confirmam as respostas dos inquiridos. Segundo o gráfico 4, apenas 18% dos cinquenta bloguistas que fazem parte da amostra assumem que iniciaram o blogue para escrever sobre a sua vida pessoal. É ainda de salientar que este tipo de diários virtuais parecem ser mais comuns entre os bloguistas adolescentes e que, no que concerne às idades, a maioria dos inquiridos pertence à faixa etária que se situa entre os 30 e os 34 anos.
Outra hipótese proposta para a criação de um blogue residia no facto de o utilizador ter sido influenciado, por alguém conhecido, a iniciar a página. De facto, os resultados demonstram que a maioria dos inquiridos (cerca de 88%) entrou no mundo dos blogues por outros meios. Deste modo, apenas 12% assumem ter sido influenciados por alguém conhecido a “abrir” um blogue.


Gráfico 1.1 - Outras razões que fomentam a criação de um blogue.

Cerca de 28% dos inquiridos apontaram ainda outras razões pelas quais criaram um blogue. A resposta era aberta e optamos depois por codificar as diversas opções, aqui apresentadas em três categorias. Assim, cerca de 70% dos inquiridos afirma que criou o blogue pelo prazer de escrever, ler e comunicar. Depois, 14% assumem que escrevem nos blogues para contrariar os poderes existentes, ou seja, escrevem de forma crítica e muitas vezes satírica sobre os poderes da sociedade, tanto o poder governamental como, por outro lado, a própria Comunicação Social. Outros 14% que optaram por somar uma razão às opções propostas no questionário, afirmam que começaram a expressar-se através deste meio pelo gosto que têm pelo tema do blogue e porque os meios de comunicação social não exploram determinados temas de forma e frequência suficientes.




2. Leitura regular de blogues


Gráfico 2 - Leitura de blogues por parte dos indivíduos


Para além da escrita, a dinâmica dos blogues é composta também pela leitura dos mesmos. De facto, os dados demonstram que 94% dos inquiridos, para além de manterem os seus blogues, se dedicam à leitura de outros que fazem parte da blogosfera.

A partir das respostas dos inquiridos, elaboramos também uma lista dos vinte blogues mais lidos em Portugal. Desta forma, o blogue Barnabé lidera o ranking, seguido do Abrupto. Em terceiro lugar, aparecem depois o Aviz, o Blasfémias e o Janela Indiscreta. São ainda de referir os blogues Contra a Corrente e Dicionário do Diabo.


Tabela 1- Os blogues mais lidos em Portugal


Quando tentamos apurar as razões pelas quais a leitura é tão vulgar e significativa, as opiniões dividem-se. No gráfico anterior denota-se a presença de três razões fortes no que concerne à leitura dos blogues. Em primeiro lugar, os inquiridos destacam a forma apelativa como os responsáveis pelos blogues escrevem e o gosto pessoal pela dinâmica da blogosfera, duas justificações que reunem 15% das respostas cada. Depois, há a realçar, com 13% das respostas, a preponderância do conteúdo do blogue, ou seja, os leitores acedem ao blogue porque são atraídos pelos assuntos que nele são tratados. Com 9% das respostas, a leitura é ainda justificada pela actualidade dos mesmos assuntos e, com a mesma percentagem, os inquiridos afirmam que lêem blogues por uma questão de fidelidade ou preferência por determinadas páginas. Alguns leitores assumem mesmo ter relações pessoais com os autores dos blogues que consultam com mais frequência, e ainda outros inquiridos justificam a leitura com diversas razões. Afirmam que lêem blogues pelas opiniões nestes expressas, e dizem também que nestes espaços virtuais encontram informação que não aparece nos meios de comunicação social convencionais. Por outro lado, é ainda destacada a qualidade dos blogues como argumento que influencia a sua leitura e outros indivíduos justificam esta atitude pelo prazer e diversão inerentes á leitura destas páginas. É ainda de referir que uma pequena percentagem o faz por curiosidade ou mesmo por rotina ou vício. Finalmente, dos 94% que afirmam ler blogues, 13% não sabe ou não respondeu a esta questão.


Gráfico 2.1 - O que fomenta a leitura de blogues

O reduzido número de inquiridos que não se dedica à leitura de blogues também justificou a sua posição. De facto, apenas 6% do total de inquiridos diz não ter este hábito. Uns lamentam a “falta de tempo” para navegar pela blogosfera, outros afirmam que esta “entrou numa nova fase”, ou seja, os blogues são cada vez mais individualistas, o que leva que tenham uma “comunidade de leitores cada vez mais pequena”. Finalmente, uma terceira justificação para esta atitude assenta no facto dos blogues serem “meramente exibicionistas”, ou seja, “só pretendem dar nas vistas” e não cumprem uma lógica na publicação de posts.


3. Blogues como alternativa aos meios de comunicação social


Gráfico 3 - Blogues como substitutos dos Meios de Comunicação Social

Outra questão relevante para este estudo residia em saber até que ponto os blogues vieram ocupar o lugar de outros meios, nomeadamente os meios de comunicação social (como a televisão, a rádio ou a imprensa), os livros e o cinema. Neste caso é o “Não” que se destaca com 68% dos inquiridos a afirmarem que os blogues não vieram substituir os meios convencionais. Ainda assim, alguns assumem que este meio recente veio retirar algum tempo de consumo que poderia eventualmente ser dedicado a esses meios convencionais. Deste modo, 32% considera que sim, que os blogues vieram revolucionar o espaço comunicacional e ocupar de forma significativa a atenção do antigo espectador, ouvinte e leitor.

Mais de 30% dos inquiridos consideram que os blogues vieram substituir de alguma forma o consumo de outros meios. Ao tentarmos perceber como é que isso aconteceu, as opiniões divergem novamente, culminando depois em três pontos principais.


Gráfico 3.1 - Como os blogues ocupam o lugar dos Meios de Comunicação Social

Deste modo, cerca de 60% dizem que com o aparecimento dos blogues passaram a dedicar menos tempo de consumo a outros meios de comunicação. Já 25% assumem ter preferência pelos comentários e opiniões que se expressam nos blogues, em detrimento dos espaços opinativos que podem ser encontrados nos meios de comunicação social convencionais. Finalmente, 13% defendem que os blogues estão mais próximos dos interesses dos leitores que os próprios media.


4. Percepção dos blogues enquanto fenómeno de moda


Gráfico 4 - Percepção dos blogues enquanto fenómeno de moda

É ainda relevante observarmos a posição dos utilizadores de blogues quanto à durabilidade dos mesmos, em termos de futuro. De facto, apesar deste ser um fenómeno recente, 56% dos inquiridos defendem que os blogues não são uma moda. Já 40% mostram-se mais cépticos e consideram que toda esta dinâmica é passageira. É ainda de referir que 4% não sabe ou não respondeu a esta questão.

Procuramos também saber as razões subjacentes à questão da moda. Assim, os inquiridos que responderam afirmativamente a esta pergunta justificaram a sua opinião em quatro pontos fundamentais. Em primeiro lugar, cerca de 50% consideram que os blogues são uma moda porque com o tempo vão desaparecendo e vão sendo substituídos por outros meios. Já 20% justificam a curta “vida” do blogues porque acham que estes são criados apenas para alcançar visibilidade ou popularidade. Por outro lado, 15% defendem que se irá perder o interesse por estas páginas e, finalmente, 10% admitem que os blogues têm uma adesão restrita, que se baseia essencialmente em pessoas provenientes do meio intelectual.

Mas, para 56% dos inquiridos este é um fenómeno que se vai manter activo. Isto porque os blogues são um meio de fácil acesso para divulgação ou expressão de opiniões e outra informação, de acordo com metade das respostas. Como se pode observar no gráfico 14, as colunas centrais convergem para o mesmo número de respostas. Assim, 14% dos inquiridos que responderam que os blogues não são de facto uma moda, justificam esta opinião com o facto de estarem sempre a surgir novos blogues. Outros 14% consideram que estas páginas são mesmo necessárias como alternativa aos meios convencionais, e o mesmo número de respostas assenta no facto da blogosfera ser uma comunidade forte, no seio da qual os bloguers interagem e comunicam entre si. Finalmente, 7% defende que comunicar não é uma moda, logo esta dinâmica bloguista deverá manter-se a longo prazo.

Gráfico 4.1 - Razões que atribuem aos blogues fenómeno de moda


Gráfico 4.2 - Razões que não atribuem aos blogues fenómeno de moda


5. A dinâmica dos blogues


De facto, existe uma grande dinâmica na publicação de posts e de leitura de blogues. Por isso, procuramos saber que motivos levam ao desenrolar deste processo. Segundo 34% dos inquiridos, é a necessidade de partilhar e expressar opiniões, informação e ideias que leva a que exista uma grande publicação e consequente leitura de entradas nos blogues. Já 18% considera que são os acontecimentos que marcam a actualidade que lideram a vontade de escrever e ler os posts. Também o facto de existirem interesses em comum de quem escreve e quem lê no seio da blogosfera contribui para esta dinâmica, de acordo com 14% das respostas. Outra justificação, dada por 10% dos inquiridos, refere-se à necessidade que os autores têm de ganhar visibilidade e protagonismo no meio da blogosfera. Por outro lado, 6% justifica esta dinâmica pela facilidade que existe na manutenção dos blogues e, o mesmo número, defende que todo este processo se deve ao prazer e à diversão que está inerente à publicação e leitura de blogues. Finalmente, é de referir que 12% dos indivíduos não sabem ou não responderam a esta questão.


Gráfico 5 - Motivos que levam à existência de uma maior dinâmica de blogues

6. A importância do anonimato na dinâmica dos blogues


Gráfico 6 - A relevância do Anonimato

Outra questão que consideramos pertinente investigar prende-se com o anonimato. Ao criar o blogue, um indivíduo pode decidir a forma como se vai identificar e assinar os posts. Desta forma, procuramos saber se o facto de o autor poder manter o anonimato o encoraja a publicar opiniões sobre qualquer assunto sem qualquer receio. Metade dos inquiridos respondeu que não, ou seja, que esse não é um factor decisivo quando escrevem no blogue. Apenas 16% admitem que é uma vantagem omitir a sua identidade. No entanto, em 34% dos casos esta questão não se aplica, visto que os inquiridos detêm alguns dos seus dados pessoais disponíveis no blogue que dinamizam.



Comments:
Vou levar, para discussão, alguns destes pontos, para o encontro de blogs que se vai realizar em Beja no dia 6 de Novembro.
http://pracadarepublica.weblog.com.pt/
 
Ainda há pouco tempo que me meti neste delicioso mundo. De intercomunicação etéra, mas real. Tinha dúvidas sobre o estatuto do bloguista e sobre o alcance e consistência cultural deste novi-ramo de comunicação. Foi bom ter encontrado este estudo. Bem estruturado. Válido. Claro. Conciso e concreto. Obrigado
 
Vou citar o estudo, e linkar, sim?
obrigada.
 
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